quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Opções policiais

Em chegando ao principal largo do meu bairro, tudo parecia estar como de costume: a estação de comboios no mesmo sitio, o centro comercial também, o quiosque continuava a vender revistas e tabaco, os passeios mantinham-se ocupados por automóveis…
A única nota dissonante era uma patrulha apeada de três membros da divisão de trânsito da PSP. Bem visíveis à distância, que a sua braçadeira vermelha não dá azo a confusões.
Estavam eles (dois homens e uma mulher) olhando pacatamente o que ali se passava e foram-se dirigindo para os meus lados, que parara eu no cruzamento das duas ruas da imagem.
Esperei que se aproximassem quanto bastasse e interpelei-os sobre se iriam actuar em relação aos passeios ocupados.
Responderam-me que sim que talvez, mas que primeiro haveriam de tratar destes outros, estacionados também à margem do código da estrada, mas na faixa de rodagem.
Então eu espero, disse-lhes, vou ali ao Multibanco e volto. É que, sabem, faço questão de fazer valer os meus direitos como peão e sempre gostaria de vos ver aplicar a lei.
“Vá”, disse-me ela em tom irónico, “e aproveite e tome um ou dois cafés, que isto vai demorar muito!”
Fui, voltei, esperei, fui tomar um café, voltei, continuei a esperar e, hora e meia depois, estavam todos os estacionados na faixa de rodagem multados, alguns com os condutores identificados.
Entretanto, e porque a presença deles ali, bem como o que estavam a fazer, já tinha sido divulgada por tudo quanto era lugar nas imediações, todos os carros que estavam no passeio haviam partido, dando lugar a um passeio largo, bonito de se ver, e seguro para quem nele quisesse caminhar.
Fui-me embora, que nada mais havia ali para eu ver. Já na estação, do outro lado do largo, ainda vi a agente que me havia recomendado dois cafés, na zona do passeio, a olhar para ele e para mim, encolhendo os ombros.

Claro que, tendo que definir prioridades, o estacionamento irregular no asfalto é bem mais importante que a segurança dos peões.
Resta saber se é uma opção dos agentes de segurança, se uma decisão dos seus comandos ou se depende da importância das coimas aplicadas.

Texto e imagem: by me

terça-feira, 14 de setembro de 2010

49-JG-33


Não estava nem bem nem mal disposto.
Vinha do almoço, o calor apertava e tinha levado uma “tampa” no tocante a uns olhos que queria fotografar. Mas não se pode ganhar sempre.
Eis que vejo esta carrinha estacionar como se vê: em cima do passeio. Tão ou mais caricato é que, do outro lado da rua, a esta hora, abundam os lugares vagos.
E estava eu a pensar se interviria ou não, quando vejo ultrapassar a carrinha, pelo asfalto, duas senhoras, uma empurrando um carrinho de bebé, acompanhadas por três pimpolhos com não mais de 5 ou seis anos.
Aí achei que tinha mesmo que fazer algo!
Dirigi-me ao motorista, ainda sentado ao volante e com uns vinte e tal de idade. Saudação regulamentar, um passo atrás e questionei-o sobre se tinha visto aquela grupo de gente a caminhar pela faixa de rodagem, que ele ocupava o passeio.
Com um sorriso, diz-me que sim, que havia visto.
Engolindo em seco, sugiro-lhe que, para evitar que se repetisse, que fosse ocupar os lugares vagos ali existentes.
Diz-me que não, que nem pensar, que estava ali para atender aquela loja e que não estava para carregar as encomendas através da rua.
Ainda lhe sugeri que, ao menos, ocupasse o asfalto e não o passeio.
Que não! Que ali estava bem e que quanto mais tempo eu ali estivesse à conversa com ele, mais tempo ficaria a bloquear o caminho aos peões.
Nada mais havia a dizer. Nova saudação regulamentar e afastei-me para fazer as fotografias habituais, enquanto ele saída da carrinha e tratava da sua vida. Tal como eu, que fui à minha.
Uns dez minutos depois, já eu estava na minha rua, vejo-o chegar. Tinha ido dar a volta ao quarteirão, que até é grande, em minha busca. Parou do outro lado e interpelou-me:
“Já que fez as fotografias, agora quero a sua identificação!”
“Obviamente que não! Identificado apenas na esquadra.”
Com um sorriso, convidou-me a entrar que seguiríamos para lá.
Entrar na carrinha seria o mesmo que “pedir festa”, pelo que lhe disse que sempre se poderia chamar o carro patrulha.
O sorriso rasgou-se-lhe de orelha a orelha e rematou, antes de seguir:
“Olhe, se lá for, não se esqueça de dar cumprimentos a Fulano de Tal. É o meu pai!”

Não fixei o nome. Fazê-lo ou anotá-lo seria garantir que lá iria e que daria um valente raspanete ao tal agente, pai de tal criatura, por ter nas ruas um filho assim.
Mas fica-me de memória a viatura e a carantonha do rapazola que pensa ter as costas e o resto quentes. Que, cedo ou tarde nos tornaremos a encontrar em circunstâncias semelhantes aqui no bairro. E, nessa altura, talvez seja mesmo necessário chamar a patrulha por via de um qualquer incidente rodoviário. Quem sabe?